Todo mundo deveria fazer terapia?
- Yan Franco
- 24 de mai. de 2023
- 3 min de leitura
A frase "todo mundo deveria fazer terapia" tem se tornado cada vez mais popular e difundida ultimamente. Normalmente ela aparece em um contexto específico, quando uma pessoa faz psicoterapia e experimenta algum tipo de benefício desta prática. Não é incomum ouvir de pessoas que conhecem a terapia que determinada pessoa ''não teria determinado problema ou não estaria passando por situação X se fizesse terapia''. No entanto, é importante trazer uma perspectiva crítica sobre essa afirmação. A terapia não deve ter o objetivo de tornar o sujeito melhor para os outros, mas sim deve visar que o indivíduo possa suportar a si mesmo.

É importante lembrar que a terapia não é uma panaceia universal para todos os problemas. Cada indivíduo é único e possui suas próprias experiências, traumas e dificuldades, e nem sempre a terapia é a melhor solução para todos os casos. Além disso, é fundamental que o indivíduo tenha autonomia e liberdade para escolher se deseja ou não buscar ajuda terapêutica. O filósofo Michel Foucault, em sua crítica a clínica, já alertava para essa dimensão de dispositivo punitivo e moral que o setting clínico pode adquirir, podendo ser visto como uma ferramenta para moldar o indivíduo de acordo com padrões sociais e culturais pré-estabelecidos.
A psicanálise, em sua essência, visa romper com essa lógica de uma cura pautada na adaptação do sujeito ao seu meio de maneira a-crítica. Não tem o objetivo de "consertar" o indivíduo, mas sim de ajudá-lo a encontrar maneiras de lidar com suas próprias angústias e neuroses.
Faz-se importante também acrescentar que a terapia individual não deve ser vista como uma solução única para questões de saúde mental em uma sociedade. Embora seja essencial e benéfica em nível individual, ela não substitui a necessidade de ações coletivas e políticas públicas voltadas para a promoção da saúde mental na população em geral. A saúde mental é influenciada por diversos fatores sociais, econômicos e ambientais, e, portanto, requer uma abordagem holística que considere não apenas o indivíduo, mas também o contexto em que ele está inserido. Políticas públicas abrangentes, como investimentos em serviços de saúde mental, acesso a tratamentos adequados, programas de prevenção e conscientização, são fundamentais para abordar as questões de saúde mental em escala populacional e garantir um ambiente de promoção da saúde. A terapia individual, nesse sentido, complementa e apoia essas ações coletivas, mas não pode substituí-las.

Ao oferecer um espaço seguro e confidencial, um processo terapêutico permite que indivíduos explorem suas emoções, desafios pessoais e desenvolvam estratégias mais saudáveis de enfrentamento. Ela proporciona suporte emocional, auxilia na compreensão de padrões de pensamento e comportamento, e promove a autodescoberta e o autoconhecimento. Por meio da psicoterapia, as pessoas podem adquirir ferramentas valiosas para lidar com questões emocionais e psicológicas, ter uma maior qualidade em seus relacionamentos interpessoais, podendo alcançar um maior bem-estar psicológico geral.
Em resumo, não é correto afirmar que todo mundo precisa fazer terapia. A terapia não é uma solução universal para todos os problemas, e deve ser vista como uma opção para aqueles que desejam se desenvolver pessoalmente e lidar com seus conflitos internos. Quando pensamos em Saúde-mental, pensamos em toda uma gama de fatores que envolve desde a garantia de condições materiais dignas de existência até acesso a esporte e lazer. A terapia é um dentre diversos recursos que o sujeito pode utilizar para poder lidar com a angústia de existir.




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