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Estruturas Clínicas e Diagnóstico Diferencial na Psicanálise (Parte 1)

  • Foto do escritor: Yan Franco
    Yan Franco
  • 21 de jul. de 2023
  • 6 min de leitura

O que são estruturas psíquicas?


Na psicanálise, a estrutura psíquica é compreendida como uma organização singular e subjetiva do psiquismo de cada indivíduo. As estruturas clínicas são modos de funcionamento do psiquismo do sujeito em sua relação com a realidade.

As estruturas clínicas na Psicanálise referem-se à dinâmica interna do sujeito, à forma específica como ele lida com o desejo, os mecanismos de defesa inconscientes, a formação dos seus sintomas, a relação com a lei, a relação com a linguagem, o laço social, entre outros.


Na linguagem cotidiana, o conceito de estrutura envolve a ideia de uma disposição complexa, estável e precisa das partes que a compõem. Refere-se à forma como um todo é composto e como suas partes se relacionam entre si. A "constituição" e "estrutura" da personalidade representam o modo permanente de organização do indivíduo.



arte abstrata preta e branca que mostra uma estrutura

Um conjunto de elementos com leis próprias independentes das leis que regem cada um desses elementos; a existência de tais leis relativas ao conjunto implica que a alteração de um dos elementos provoque a alteração de todos os outros; dado que o valor de cada elemento não depende apenas do que ele é por si mesmo, mas depende também, e sobretudo, da posição que ele ocupa em relação a todos os outros do conjunto. (Prado Coelho, 1967, p. XXI)



A estrutura psíquica, então, corresponderia a um estado psíquico formado pelos elementos fundamentais da personalidade, fixados em um conjunto estável e definitivo. Numa leitura Freudiana, uma estrutura da personalidade implicaria uma organização envolvendo:

  1. Mecanismos de defesa,

  2. Modo de relação com os objetos,

  3. Grau de evolução libidinal,

  4. Pontos de fixação da libido,

  5. Grau de desenvolvimento do ego,

  6. Atitude diante da realidade,

  7. Uso dos processos primário e secundário.

De acordo com Freud, no desenvolvimento psicossexual, quando o funcionamento psíquico de um indivíduo alcança um determinado grau de organização e assentamento dos seus mecanismos psíquicos fundamentais, não há mais possibilidade de variação. Em suas Novas Conferências de 1933, Freud menciona que, se deixarmos cair um cristal (bloco mineral) no chão, ele se quebrará, mas não de qualquer maneira e sim de uma maneira que revele qual a estrutura de organização da matéria que compõe aquele cristal.


Na psicanálise, distinguimos três tipos de estruturas: Neurose, Perversão e Psicose. Cada uma dessas estruturas apresenta características específicas que influenciam a forma como o sujeito vive e sofre.

As estruturas clínicas


*esta parte consiste de uma ultra-simplificação de um conteúdo bastante vasto e complexo com a finalidade de ser didático*


tabela com as principais estruturas clinicas para a psicanalise

Neurose

A Neurose é uma forma de organização psíquica considerada comum nos indivíduos. Ela é caracterizada por um tipo de disputa intrapsíquica resultante de desejos e impulsos inconscientes que entram em conflito com as normas sociais e as expectativas internalizadas pelo sujeito.

O principal mecanismo de defesa na estrutura neurótica é o recalque. O recalque envolve o ato de reprimir (tormar inconsciente) impulsos, pensamentos ou memórias que são considerados ''inaceitáveis'' ou ameaçadores para o sujeito. Esses conteúdos são empurrados para o inconsciente, tornando-se inacessíveis à consciência, mas continuam influenciando a vida do indivíduo de forma ''disfarçada''.

Para se adaptar-se ao mundo de realidade, evitar represálias do outro social e sentimentos de culpa, o indivíduo reprime impulsos e desejos sexuais e de agressividade, considerados ''tabus''.

A via de retorno do conteúdo inconsciente se dá através do registro do simbólico, conforme concebido por Lacan em sua teoria dos três registros (Real, Simbólico e Imaginário). O registro simbólico seria uma estrutura linguística e cultural que medeia a comunicação entre os indivíduos e o mundo. É através do registro simbólico que o inconsciente se manifesta

indiretamente (na neurose), por meio de símbolos, sonhos, atos falhos e outras expressões do inconsciente.

O principal fenômeno clínico da estrutura neurótica é o sintoma. O sintoma é uma manifestação simbólica do conflito intrapsíquico que caracteriza a neurose, e pode assumir diversas formas, como ansiedade, fobias, conversões, compulsões, entre outros. Esses sintomas são expressões codificadas dos desejos reprimidos, buscando satisfação de maneira indireta e disfarçada.


Perversão

Para Lacan, a perversão é uma estrutura psíquica na qual o sujeito busca a satisfação sexual em objetos ou práticas consideradas atípicas ou ''transgressoras'' em relação às normas sociais. A perversão envolve uma reorganização particular do desejo, na qual o sujeito desvia-se dos padrões sexuais estabelecidos. A perversão está relacionada à negação da falta simbólica (castração) e à busca de um gozo fora das vias normativas da sexualidade. Na articulacão da sua fantasia, o sujeito perverso precisa encontrar alguém que tope e se encaixe nessa sua economia libidinal. Isso muitas vezes expõe o sujeito a situações de infração da lei (lei simbólica).

A denegação, mecanismo de defesa principal que caracteriza a estrutura perversa, está relacionada à recusa em reconhecer a falta ou a castração simbólica que é inerente ao ser de linguagem na sua relação com o outro. O mecanismo da denegação (também conhecido como renegaçã ou desmentido), é um processo psíquico no qual o sujeito reconhece um conteúdo ou verdade, mas ao mesmo tempo nega seu significado ou importância. Assim como o recalque, é uma forma de defesa que permite ao sujeito lidar com aspectos perturbadores ou ameaçadores de sua realidade, mantendo-os afastados da consciência.


Na perspectiva lacaniana, a denegação é onde o sujeito busca uma satisfação sexual fora das vias normativas, mas, ao mesmo tempo, nega a castração e a falta simbólica, buscando escapar das limitações do desejo e da lei simbólica por meio de fantasias e práticas perversas. A denegação na estrutura perversa é uma tentativa de evitar a confrontação com a falta e a impossibilidade do desejo e de sustentar uma relação fantasmática com o gozo, buscando escapar da castração simbólica e da realidade simbólica da lei. O principal fenômeno clínico da estrutura perversa é o fetiche. O fetichismo caracteriza-se por relação um objeto, situação ou parte do corpo, que é investido de significado e valor simbólico e imaginário para o sujeito perverso.

A calcinha, o pé, o sapato, a trança... Algum elemento que, em tese, estaria presente no campo perceptivo do menino cena da descoberta da castração materna, ocultando a constatação da castração na mãe (negação). O fetiche teria então uma função ordenadora para as pulsões do perverso. É uma função que substitui a relação com a satisfação sexual, que é de encontro com o fetiche e não de encontro com o outro. Ou seja, a relação se dá exclusivamente com o objeto e não com um outro sujeito. O objeto, esse fragmento, essa parte do outro, passa a valer pelo todo.


O fetiche é uma forma de negação da falta, transformando o objeto fetichista em um substituto que permite ao sujeito contornar o confronto direto com a castração simbólica.


Isso enquanto estrutura clínica pode se associar com práticas que ,culturalmente e socialmente, repudiamos. Como o fato de que alguém possa apenas sentir satisfação sexual batendo no outro (no caso do sadismo).

No entanto, é importante destacar que a negação e o fetichismo não são mecanismos exclusivos dessa estrutura. Podem ocorrer em outros contextos e estruturas psíquicas, embora possa se manifestar de maneiras diferentes.


Psicose

A Psicose seria a estrutura psíquica representada pelo senso comum como a ''loucura'', caracterizada pelos fenômenos de delírio e alucinação, numa relação basttante particular de distanciamento da realidade.


O mecanismo de foraclusão é o mecanismo de defesa que estrutura a psicose. O termo "foraclusão" tem sua origem etimológica na palavra francesa "forclusion", que significa "exclusão" ou "recusa".

A foraclusão refere-se a quando um significante fundamental é excluído do campo simbólico do sujeito. Esse significante excluído é conhecido como "o Nome-do-Pai". O Nome-do-Pai representa simbolicamente a função paterna e a lei simbólica na estruturação psíquica de um indivíduo.

Na psicose, o processo de foraclusão implica na rejeição do significante do Nome-do-Pai, o que resulta em uma ruptura significativa na relação do sujeito com o mundo simbólico e na sua incapacidade de simbolizar adequadamente o significante da lei.


Em outras palavras, há a exclusão de um operador fundamental (presente na neurose e perversão) cuja função é mediar a relação do sujeito com o mundo simbólico. Diante dessa relação prejudicada e frágil com o campo simbólico, o sujeito carece de recursos para representar a realidade e os acontecimentos e experiências do mundo interno e externo, que retornam de forma desorganizada no campo do real como delírios e alucinações.

Sub-estruturas

Cada uma destas chamadas ''grandes estruturas'' subdivide-se em pelo menos mais 3 sub-estruturas e adquire toda uma gama de especificidades de manifestação e funcionamento.

tabela com as principais sub-estruturas clinicas para a psicanalise

Na parte 2 deste texto, abordaremos as especificidades do diagnóstico diferencial na psicanálise e qual a função do diagnóstico numa análise.

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